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Noite de Seresta - O rolê que você precisa assistir

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Um quintal. Mesa amarela da Skol. Cadeira de plástico. Espetinho. Bebida. Karaokê. Uma mulher que ama cantar. Noite de Seresta (2020) é um curta documentário cearense dirigido por Sávio Fernandes e Muniz Filho que conta a história de Katia (Kátia Blander), uma amante da música que alegra serestas nas noites da cidade. Sua alegria é captada pelas câmeras de uma maneira calorosa e irreverente que exorciza seus demônios e dá leveza as outras searas de sua vida pessoal. O curta contagia quem assiste, quase numa imersão as serestas que faz Katia brilhar. Numa montagem experiente entre closes e detalhes das festas com sua posição de entrevistada, vamos mergulhando no carisma da cantora (que tanto se orgulha quando a chamam pela profissão). Em poucos minutos, já somos público da mulher com eclético repertório, indo do sertanejo ao estrangeiro. A energia anda de mãos dadas com Noite de Seresta . Cutuca-nos nessa festiva música universal pelo tanto de amor que depositamos no nosso recorte lo...

Pajeú - O monstro do esquecimento

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O melhor cenário para que sua história tome forma é o seu. Em Pajeú (2020), de Pedro Diógenes , não precisamos de Nilo ou Tâmisa para narrar os assombros reais que a personagem Maristela (Fátima Muniz) vive. É através dela que um misterioso ser aparece no meio do riacho, transformando sua falta de paz em curiosidade num processo de conscientização sobre Pajeú, corrente d’água berço da formação de Fortaleza/CE. Maristela sente-se fragmentada tal qual o riacho, que tenta resistir nessa história e memória no meio da urbanização desenfreada e especulação imobiliária desde a fundação da capital. Se, por um lado, Maristela observa o importante riacho submergindo com sua história debaixo do asfalto, por outro ele quer ferozmente emergir, como o caso das enchentes na Av. Heráclito Graça e muitos estabelecimentos do Centro da cidade. Pajeú é um filme com dualidades nada paradoxais. Pelo contrário. Se confrontam e se completam dentro da obra de Diógenes. Temos uma fragmentação/desfragmentação ...

Sertânia - Aproveita o farelo e não desperdiça o fubá

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Sou suspeito em falar sobre um filme que abraça o sertão arcaico e seus signos. Falo “sertão”, não somente como uma sub-região do meu querido Nordeste, mas também tudo que ela guarda, luta, encanta, sofre, cura, significa e ressignifica até os dias atuais. Necessito previamente adjetivar o que Sertânia (2018), de Geraldo Sarno é: banditismo e fanatismo aos moldes estudados de Ruy Facó. Um banditismo mais aparente na figura de uma das seis personas nordestinas que permeia o ciclo do gado, o cangaceiro. Mas um Cangaço que remete os tempos (sem ser, pois seu recorte é arcaico, mas atemporal) de Jesuíno Brilhante, de vestes opacas fazendo jus ao preto e branco glauberiano que antecede ao colorido e bordado de Lampião e Corisco. Um coronelismo em mutualismo com esse Cangaço. Um fanatismo discreto no filme, mas exuberante, do sebastianismo para mostrar que o arraial de Canudos ainda continua vivo dentro da promessa do retorno de seu El Rei. A fé consolável sertaneja, que oscila entre as pr...