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Mostrando postagens com o rótulo literatura brasileira

RESENHA | Gótico Nordestino, de Cristiano Aguiar

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“A dor, a ansiedade e o medo escorriam de tal forma através do corpo das três fêmeas que um laço invisível as comprometia num enredo novo, um enredo tecido numa língua desconhecida, porém profunda.” A primeira vista você pode achar que Gótico Nordestino (Ed. Alfagara, 2022) se trata de um livro mais técnico discorrendo sobre o seu título. E poderia ser, se tratando da vasta pesquisa que o autor paraibano Cristiano Aguiar percorre sobre a ficção latino-americana, brasileira e regional na sua trajetória acadêmica. Mas não julgue o livro pela capa (aliás, uma bela capa com arte do armorial Gilvan Samico ). Gótico Nordestino é uma antologia com nove contos que dispensa qualquer prefácio diante da qualidade literária que possui. Histórias se apresentam quando os leitores as começam. Com um prosaico rico, com descrições chamativas, mas não dependentes de si, a narrativa de Cristiano Aguiar intensifica muitos elementos existentes nos emblemáticos signos nordestinos herdados de outrora, con...

RESENHA | Santuário, de Maria de Fátima Maia

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Uma vez eu vi alguém dizendo que todo mundo gosta de poesia, pois quem gosta de música gosta de poesia. Concordo, porque é a poesia que dá a alma tanta coisa na vida.  É a poesia o alicerce do santuário da literatura, e Maria de Fátima Maia nos convida a entrar no templo dos sentimentos através da língua portuguesa, tão bela e sonora, defendida por sonetistas como Camões e Fernando Pessoa.  Mas o que é um soneto?  Basicamente, Soneto é uma estrutura poética composta por quatorze versos, onde dois são quartetos (quatro versos) e dois são tercetos (três versos). Vamos para um exemplo estrutural de “Vejo, as cãs do ignóbil cavaleiro” do livro:  “Restou algo da sólida armadura?  Do brocado, uma mácula escarlate,  o estigma cruento do combate  é um espírito ávido por cura (fim 1º quarteto)  À maneira atrevida de quem jura,  artimanhas sequer coram tua face,  com sussurros planejas nosso enlace…  Sedução, incurável pr’alma pura! (fim 2º quarteto)  E, tocando meu golpe já dormente,  a ince...

Clube da Iraceminha - José de Alencar para baixinhos

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Quem disse que existe idade para termos contato com os nossos clássicos? Tudo depende da forma como fazer (viu, Felipe Neto?) e o Clube da Iraceminha (2020) fez acontecer, inspirado na famosa obra do messejanense José de Alencar para uma web série voltada para crianças de 0 a 3 anos de idade. Prezando um melhor e democrático alcance do conteúdo, a série será exibida no seu canal do YouTube (com versão em Libras), e já no primeiro episódio conta sobre o esperado nascimento de Iracema. Logo, vemos ela interagindo com a natureza e seu povo, destacando as características mais aparentes do indianismo para o maior entendimento das crianças. Tudo dentro de um bom verde e marrom das matas do Ceará. A série ainda consegue fugir dos estereótipos dos índios sempre vestidos com folhas e cipós. Numa versão mais atual, Clube da Iraceminha se aproxima da contemporaneidade das vestimentas dos índios, mesclando o antigo romance com uma estética atual, sem perder as identificações que facilitam o ente...

I-Juca Pirama - A quadrinização de uma obra essencial da literatura brasileira

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Minhas experiências com adaptações de clássicos da literatura brasileira para quadrinhos não são das melhores. Há um certo costume da transcrição do texto literário ipsis litteris para os roteiros que comprometem a qualidade delas em muitos aspectos: o desenho é condicionado a somente repetir a mensagem escrita, o que prejudica a função da arte sequencial: cumprir a serialização das imagens e demais elementos numa harmonia que conceda à leitura da obra certa fluidez. Foi o que aconteceu em Macunaíma em HQ , por Ângelo Abu e Dan X. O elemento textual citado acima está presente em I-Juca Pirama que o pernambucano Silvino adapta da obra de Gonçalves Dias . Mas incrivelmente (e felizmente) não acontece o mesmo. Silvino consegue um feito digno de aplauso em ressignificar essa escolha. Como Silvino conseguiu não cair nesse erro onde tantos não se esquivam? Analisando com mais calma as quase cinquenta páginas da obra, é imprescritível a qualidade literária de Gonçalves Dias dentro do romant...

RESENHA | Conectadas, de Clara Alves

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Essa é a primeira obra da Clara Alves publicado por meio físico, pela editora Seguinte . A capa foi o que me chamou atenção pra esse livro. É um design que tem sido muito usado ultimamente, com traços mais simples, mas não deixa de ser eficaz na mensagem. Traduz muito bem a história, de como as duas personagens principais se relacionam e como existe um recorte na realidade, que nem tudo que está na internet é verdade. Sobre o livro, nós seguimos o ponto de vista das duas personagens principais, a Raíssa e a Ayla. As duas moram no estado de São Paulo, em cidades que ficam a cerca de uma hora de distância uma da outra. Raíssa tem um pai gamer e uma mãe professora, e já no início do livro a autora nos apresenta a realidade de ser uma mulher gamer , como os homens as ignoram nas partidas em grupo ou, pior, só falam com elas com segundas intenções. E por estar sendo tão difícil se conectar com os outros jogadores do novo MMORPG “Feéricos”, ela decide fazer um perfil masculino. Anos depois...